Ciro Nogueira e Eduardo Bolsonaro trocam farpas e expõem divisão no Pós-Bolsonarismo

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Presidente do PP acusa deputado de causar "prejuízo gigantesco" ao projeto da direita, enquanto filho do ex-presidente rebate, falando em "plano pessoal". A troca de acusações revela a crescente disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro e o isolamento da ala mais radical.


A cena política da direita brasileira assiste a um novo e revelador capítulo de suas divisões internas. De um lado, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas e ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. Do outro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente e voz influente da ala mais ideológica do bolsonarismo. A troca de acusações públicas entre os dois não é apenas uma briga pontual, mas um sintoma claro da luta pelo futuro e pela liderança do campo conservador no país.

O estopim da discórdia foi uma declaração de Ciro Nogueira durante o programa "Canal Livre", da Band, no último domingo (12). Ao comentar a atuação de Eduardo Bolsonaro, o senador foi direto: "[Foi] um prejuízo muito grande. Eu não condeno o Eduardo porque eu não sei o que que eu faria se meu pai estivesse sendo injustiçado, mas foi um prejuízo gigantesco para o nosso projeto político". Nogueira se referia, implicitamente, à estratégia de internacionalização da crise política e às articulações do deputado nos Estados Unidos, que, na visão de muitos, acabaram por radicalizar o debate e afastar potenciais aliados.

A resposta de Eduardo Bolsonaro veio rapidamente, através de suas redes sociais. Em tom de confronto, o deputado dirigiu-se ao ex-aliado do governo de seu pai: "Prezado Ciro Nogueira, o prejuízo foi gigantesco para o seu plano pessoal. Não se pode confundir o seu interesse com o do Brasil", escreveu, finalizando com uma afirmação controversa: "A diferença é que estou disposto a sacrificar os meus interesses pessoais pelo Brasil".

A tréplica expõe o cerne do problema: quem fala em nome da "direita"? E quem define o que é o "interesse do Brasil"? Ciro Nogueira, um político pragmático e figura proeminente do chamado "Centrão", representa uma corrente que busca construir uma oposição viável ao governo Lula, capaz de dialogar com setores mais amplos do eleitorado e, eventualmente, vencer uma eleição majoritária. Essa ala, que inclui nomes como Gilberto Kassab (PSD) e Antonio Rueda (União Brasil), entende que a alta rejeição associada ao bolsonarismo mais radical é um obstáculo a ser superado. Nomes como Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior são vistos como alternativas mais palatáveis.

Por outro lado, Eduardo Bolsonaro personifica a resistência intransigente, que não abre mão da retórica beligerante e da defesa incondicional do legado e da figura de seu pai. Essa postura, embora mobilize uma base fiel e possa garantir sucesso em eleições proporcionais, demonstra ter um teto de crescimento. A consequência tem sido um isolamento progressivo do clã Bolsonaro, que já recebeu críticas públicas de figuras antes próximas, como o pastor Silas Malafaia e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

A troca de farpas continuou com Ciro Nogueira adotando uma postura mais conciliadora, típica de seu perfil político. "Nunca quis ser nada além do que sou. (...) O que me interessa também é o Brasil", respondeu, evitando escalar o conflito. É o clássico "morde e assopra" de quem entende que a política é feita de pontes, e não apenas de muros.

Curiosamente, a estratégia de Eduardo Bolsonaro parece gerar um efeito colateral inesperado: o fortalecimento de seus adversários. Informações de bastidores, publicadas pelo jornal "O Globo", dão conta de que o próprio presidente Lula teria apelidado o deputado de seu "camisa 10". A razão é simples: a radicalização e as polêmicas criadas por Eduardo, como a defesa de tarifas contra produtos brasileiros em articulação com o governo Trump e a intimidação a autoridades, acabam por unificar o campo governista e afastar eleitores de centro do espectro da direita.

O embate entre Ciro e Eduardo, portanto, é mais do que uma briga de egos. É um divisor de águas que força o campo conservador a se olhar no espelho. De um lado, a busca por uma direita pragmática, com projeto de poder e capacidade de articulação. Do outro, um bolsonarismo de trincheira, que parece, cada vez mais, falar apenas para si mesmo. O desenrolar dessa disputa será decisivo para definir não apenas o principal antagonista do lulopetismo em 2026, mas o próprio futuro do pensamento conservador e liberal no Brasil.

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